Conversar e resolver os conflitos de uma relação | A Nossa Vida

Conversar e resolver os conflitos de uma relação

“Um casamento feliz é uma longa conversa que sempre parece demasiado curta.”
Andre Maurois.

Uma conversa que tinha tudo para ser produtiva pode terminar num concurso para ver quem grita mais alto, ou num “silêncio de cortar à faca”. Se isto surge com frequência na vossa relação, significa que têm de arranjar novas formas de conversarem. Para conseguirem uma boa conversa lembrem-se sempre da forma como diriam a uma pessoa com quem não tenham muita confiança que afinal um jantar importante para ela tem de ser adiado pela segunda vez; certamente que não vão começar aos gritos com a pessoa, seguramente que vão iniciar a conversa com suavidade e tentar fazer compreender a pessoa acerca dos motivos racionais pelos quais o jantar teve de ser adiado.

Para conseguirem resolver um conflito através de um bom diálogo é necessário:

Começar a conversa delicadamente. Por vezes surgem conflitos que têm de ser conversados para serem resolvidos, e a grande diferença no desenvolver de uma conversa é o modo como ela se inicia. Se sentirem que não conseguem ter uma conversa civilizada nesse preciso momento, então o melhor é adiarem a conversa para outra ocasião em que ambos estejam mais calmos.

Queixarem-se mas não atribuírem culpas. Eliminem do vosso diálogo a frase “A culpa é tua!”, esta abordagem não leva a lugar algum, apenas fará com que a tensão, a necessidade de defesa e o ressentimento perdurem na relação.

Comecem as frases sempre por “Eu” e nunca por “Tu”. As frases iniciadas por “Eu” são sempre menos críticas resultando numa conversa menos defensiva. Notem a diferença entre “Eu gostava que fizesses mais tarefas domésticas”em oposição a “Tu nunca fazes nada em casa”. Mantenham as vossas conversas centradas nos vossos sentimentos como “Eu sinto que...” em vez de verbalizarem julgamentos.

Descrevam apenas o que está a acontecer sem fazer julgamentos. Descrevam aquilo que sentem para que a outra pessoa não se sinta atacada; ex: “Estás sempre a deixar o carro mal estacionado.” em oposição a “Acho que seria melhor estacionares o carro mais perto do passeio para não impedir o trânsito.”

Sejam claros e educados. Não esperem que um leia a mente do outro, infelizmente isto ainda não é possível, e vão ter de se cingir à velha e tradicional conversa, explicando claramente o assunto sem meias palavras. Serem educados nas conversas que mantêm é essencial para se sentirem respeitados. Devem usar frases como: “por favor...”, “se não te importares...”

Mostrem o vosso apreço. Se no passado um de vocês fazia algo que o outro gostava então não se coíbam de o mencionar. Digam o quanto gostavam que a outra pessoa procedesse da forma antiga, e mencione que seria bom se pudesse voltar a ser dessa forma.

Não acumulem as coisas. Se sentem que existe um problema falem sobre ele. Uma coisa na cabeça durante demasiado tempo torna-se num tornado de emoções que podem ser muito nocivas ao relacionamento. Algo que se poderia ter resolvido num simples trocar de palavras, causará sofrimento. Não deixem para amanhã o que podem fazer hoje.

Aprendam a fazer tentativas de reparação. Se sentirem que a outra pessoa está a escalar o conflito então sejam racionais e tentem acalmá-la com gentileza, verão que com paciência esta abordagem é muito eficaz. Aprendam a travar o conflito e a começar a conversa de novo. Mesmo que a discussão esteja a ficar agressiva, acalmem-se e comecem a conversa do início. Se treinarem esta postura ela começará a dar frutos em breve, tornando-se na vossa forma natural de agir.

Reparem a conversa. Estejam atentos à tentativa de reparação da conversa do parceiro. A vossa vida a dois pode ser fabulosa se aprenderem a controlar os estragos feitos. Por vezes, apesar do tom negativo e do travão no meio da conversa, a tentativa existe, e é necessário estarem atentos à mesma: “Vamos parar esta discussão.” - isto é claramente uma tentativa de reparação da conversa, embora possa parecer uma fuga. Nestes momentos da conversa aproveitem para começar de novo. Frases como “Estou a sentir-me triste. ” ou “Estou a começar a ficar enervado.” são bons indicadores de uma tentativa de reparação. Como existe uma clara dificuldade em ouvir o outro quando a discussão está cheia de negatividade, convém que se apercebam do sucedido e que lancem uma frase de tentativa de reparação da conversa como “Preciso que me apoies.” ou “Por favor acalma-te e ouve.”, ou “O que estás a dizer é que...”, ou “O meu problema é que...”, ou “Vamos tentar chegar a um compromisso neste assunto.”, ou “Estou a perceber o que queres dizer.”, ou “Eu amo-te.”... Se um de vocês lançar uma tentativa de reparação da conversa aceitem-na e acarinhem-na.

Tranquilizem-se mutuamente. O corpo envia sinais de tensão quando está num estado de stress, uma pessoa em estado de stress vai mais facilmente incentivar uma discussão pela negativa do que uma que esteja a emitir sinais de relaxamento. Se estiverem nesta situação então interrompam a discussão e auto-tranquilizem-se. Se estiverem em estado de stress, digam: “Estou muito stressado, necessito de fazer uma pausa”. Esta pausa deve durar pelo menos 15 a 25 minutos, que é o tempo necessário para o corpo acalmar. Neste período relaxem, oiçam música, respirem fundo e evitem os pensamentos enervantes. Se praticarem meditação esta é a hora exacta para usar essa técnica. Fechem os olhos, concentrem-se na respiração e pensem que estão num local paradisíaco. Isto baixará significativamente os ritmos cardíacos, tornando a conversa mais civilizada e produtiva. Depois de se auto-acalmarem, acalmem-se um ao outro, se praticarem este exercício, começarão a sentir que o outro é uma fonte de calma e senti-lo-ão cada vez menos como uma ameaça. Pratiquem este exercício sempre que puderem, nunca é demais fazê-lo.

Estabeleçam compromissos. Um compromisso só funcionará se ambos tiverem as mentes abertas à influência um do outro; ou seja, têm de estar verdadeiramente abertos às opiniões e desejos um do outro (embora isto não signifique que têm de aceitar ou concordar com tudo o que o outro diz ou pretende). Revelar uma abertura para aceitar pontos de vista diferentes é um grande passo para o sucesso de um compromisso. Questionem-se mutuamente sobre os vossos pontos de vista, tentem compreender a perspectiva um do outro. Isto impedirá que as discussões sejam negativas para o relacionamento, e sejam sim, fonte de intimidade e de sucesso do mesmo.

Tentem encontrar terreno comum. Decidam qual o problema e a solução que pretendem adoptar para o resolver. Cada um deve pegar num papel e assentar aquilo no que pode ceder, no que não pode ceder, e depois entre ambos verifiquem quais são os pontos comuns e tentem chegar a um compromisso.

Sejam tolerantes com os defeitos um do outro. Muitas vezes as relações embarram nos desejos e expectativas que se têm acerca um do outro. Enquanto existirem atitudes como “Gostava que a minha parceira fosse mais magra.” ou “A minha vida era muito melhor se o meu parceiro fosse mais bonito.”, não existe solução. Aceitar as fraquezas e defeitos um do outro é essencial para conseguirem resolver os conflitos. A resolução de conflitos passa por negociar uma forma das pessoas conseguirem conviver harmoniosamente. Quando se ultrapassam as barreiras que impedem uma comunicação cristalina, as dificuldades são muito mais fáceis de resolver.