A depressão numa relação: como estar casado com alguém que sofre de depressão | A Nossa Vida

A depressão numa relação: como estar casado com alguém que sofre de depressão

Viver com alguém que sofre de depressão não é tarefa fácil, mesmo que seja com um dos 30% de pessoas que se consegue sentir aliviada pelos antidepressivos. A maioria das pessoas nesta condição sente-se envergonhada pelo facto de sofrer de depressão.

Lidar com alguém que sente constante cansaço, tristeza, desinteresse na vida, agressividade, mudanças de humor, e em que a última coisa que pensa são as necessidades dos outros pode ser frustrante e esgotante. Ter uma relação com alguém que sofra desta condição é muito confuso e doloroso; amar alguém que se isola constantemente e que afasta quem gosta, bem como todas as tentativas de ajuda. Todos estes sentimentos e estados emocionais afectam uma relação.

O verdadeiro perigo de viver com alguém com uma doença é o facto de como parceiro(a) que é, poder vir a tornar-se co-dependente deste problema. No entanto, a força necessária para conseguir viver com essa pessoa, é tal como quem consegue viver com alguém que sofra de HIV ou até de cancro: ignorar o problema, arranjar desculpas para o comportamento da pessoa, fazem parte do comportamento do co-dependente.

O truque de conseguir ter uma relação que sobreviva a esta doença é manter os seus limites, insistindo sempre em satisfazer as suas necessidades. Todas as relações têm de implicar a satisfação das necessidades individuais de cada um, independentemente do estado da saúde da outra pessoa, só assim pode haver equilíbrio para ambos.

As seguintes regras servem para uma melhor vivência com uma pessoa com depressão:

Mentalize-se que não é uma questão da pessoa querer sair deste estado. Saiba que a outra pessoa tem realmente uma doença, e tal como alguém com HIV não pode simplesmente sair desse estado. Evite expressar os seus sentimentos de frustração ou de fúria de formas que se possa arrepender; no entanto não suprima os seus sentimentos. Aponte as coisas positivas que aconteceram na vida da pessoa, pois alguém com depressão sabota-se a si própria não valorizando as coisas boas que faz, mentindo-se e dizendo para si que nada corre bem.

Reconheça que a depressão não é racional.  É doloroso sofrer rejeições continuadamente e ser ignorada(o), esta pode ser apenas a forma como a pessoa que ama responde aos seus esforços de ajudar, não sendo algo pessoal ou especialmente dirigido a si.

Compreenda a doença. Informe-se bem do que a depressão é, e do que não é. Leia e procure saber o mais que puder acerca desta doença.

Questione a pessoa sobre os seus sentimentos. Encoraje a pessoa a conversar sobre os seus sentimentos consigo. Tenha a capacidade de ouvir sem fazer julgamentos, isto será crucial para que a pessoa se possa sentir ouvida. Tente conversar sobre a sua infância, problemas com os pais, pergunte-lhe qual o papel que você representa na vida dela relacionando isso com a infância, e quais as atitudes que você toma e que lhe desencadeiam episódios depressivos.

Não se responsabilize. O primeiro passo a dar é ultrapassar o facto de achar que a culpa é sua. A depressão da outra pessoa não é da sua responsabilidade, por isso sozinho(a) não a conseguirá curar. Pode sim oferecer apoio, demonstrar a sua amizade e amor. Dê um passo atrás e perceba que só não será capaz de derrotar a doença. Procure ajuda médica para si e para a pessoa, caso ainda não o tenha feito. O primeiro passo para ajudar a outra pessoa é ajudar-se a si em primeiro lugar.

Admita a sua falta de poder contra a doença. Muitas pessoas caem no erro de achar que conseguem curar uma pessoa com depressão, quer seja através da força do seu amor, ou da sua capacidade de serem fortes; estes sentimentos por muito boas intenções que tenham subjacentes, não são suficientes.

Não tente salvar a pessoa. Uma pessoa deprimida sofrerá de mudança de humores por vezes semelhantes às birras de uma criança. A doença fará com que a pessoa fique infantilizada, podendo colocar sobre si a pressão de tentar resolver o problema, tentando ser paternalista ou maternalista e depois sentir a culpa por não conseguir o que lhe é pedido.

Não invente desculpas para a pessoa. Nunca invente desculpas pelo facto da pessoa estar em negação da depressão. Arranjar desculpas só dará mais margem à pessoa para não procurar ajuda, fazendo-lhe mais mal que bem.

Encoraje a pessoa a procurar ajuda. Muitas pessoas que sofrem de depressão estão em negação da sua doença, ou tentam resolvê-la com álcool, surtos de compras, etc... parte da sua preservação pessoal é fazer com que a pessoa procure ajuda profissional.

Transmita-lhe os seus desejos. A pessoa com depressão poderá estar doente, mas você continua a ter as suas necessidades, e algumas dependem da outra pessoa para se sentir realizada(o). Se a outra pessoa não sentir honestidade sobre o que pretende da relação, isso fará com que se sinta pior consigo própria. Fale honestamente acerca do que é capaz e do que não é capaz de fazer. Nunca prometa nada que não seja possível cumprir. Passar por este processo de trocar necessidades funcionais e reais, poderá ser uma ferramenta poderosa para ambos.

Auto-examine-se. Por vezes a depressão da outra pessoa faz com que se sabote a si própria(o). Saiba que também pode estar a ganhar algo com a depressão da outra pessoa: o comportamento da outra pessoa pode estar a dar-lhe desculpas para revelar os seus sentimentos agressivos, a oportunidade de ser a pessoa que irá salvar o seu amor, ou até uma desculpa para justificar os seus defeitos. Se analisar o seu passado e já tiver tido diversas relações com pessoas que sofriam ou poderiam estar a sofrer desta doença, então saiba que existe algo no seu passado que justifica este comportamento. Quando procurar ajuda para lidar com a pessoa com depressão procure também ajuda para este tipo de comportamentos da sua parte.